24 septiembre, 2007

La Mercè









Acabo de voltar da festa de la Mercè com a certeza de que amo Barcelona.

Pode ser a impressão de uma romântica em dias cor-de-rosa (e pós show do Travis), mas a diversidade e a liberdade que são possíveis de experimentar aqui me fazem tão bem...

Quatro dias de concertos, desfiles de gigantes, circo, brincadeira, gincana, fogos (festa na Catalunha sem um foguete não é festa), exposições, museus abertos e gente, muita gente na rua. É a festa maior de Barcelona, com uma programação variada, a lembrar da padroeira, Virgen María de la Merced (embora eu mesma não tenha conhecido a parte religiosa da comemoração). É festa popular a ocupar muitos espaços da cidade.

Imersa no meu universo da pesquisa, olhei a festa também desde o foco da presença latino-americana em Barcelona. E hoje saí a ver o que encontrava na Praça Catalunha, onde acontecia uma mostra de associações.

Ali na centro da cidade:
* apresentação de dança com o grupo Alma Peruana, antes do flamenco e da música clássica
* projetos sociais tocados aqui por gente de lá
* encontro em associação de bolivianos
* gente disposta a contar um pouco da sua história
* e, antes de ir embora, duas brasileiras a misturar samba com batida eletrônica, distribuindo instrumentos de percussão improvisados que fizeram catalão, brasileiro, chileno, francês e quem mais passasse balançar






Ok, nem tudo é integração e festa...
mas deixa eu viver o meu dia de polyanna.

19 septiembre, 2007

Outono




















El porvenir es tan irrevocable
como el rígido ayer. No hay una cosa
que no sea una letra silenciosa
de la eterna escritura indescifrable
cuyo libro es el tiempo. Quien se aleja
de su casa ya ha vuelto. Nuestra vida
es la senda futura y recorrida.
Nada nos dice adiós. Nada nos deja.
No te rindas. La ergástula es oscura,
la firme trama es de incesante hierro,
pero en algún recodo de tu encierro
puede haber un descuido, una hendidura.
El camino es fatal como la flecha
pero en las grietas está Dios, que acecha.
Para una versión del I King. Jorge Luis Borges.


É essa coisa de entristecer quando o frio chega que não me deixa.
Lembrança de entardecer laranja,
nesse jeito atravessado de viver o tempo por dentro.

(Nessas horas, até a foto é gaúcha: de Eduardo Amorim)



16 septiembre, 2007

Festas latinas

Quem manda estudar os imigrantes latino-americanos em Barcelona? Povo festeiro esse meu!

O final de semana foi dividido entre tango e mariachis, empanada e burrito, exposição de fotos e apresentação de luta livre.





"Somos tristes los argentos..."


São pura paixão, isso sim. Paixão por Buenos Aires, sua terra, saudade, ritmo, amor de alma inteira. Lindo o encontro do Urban Tango, que reuniu no sábado argentinos errantes, espanhóis e amantes da dança de diferentes cantos.

Hoje acompanhei parte da comemoração da Semana do México em Barcelona, promovida pela Associação Cultural Calli Mexica. A programação teve apresentações de luta de grandões fantasiados, entre gritos da platéia. O que me fez chegar a conclusão de que não gosto de briga nem de brincadeira. Sou mais os simpáticos mariachis, seus sombreros e canções.

No sábado, os mexicanos lembraram o começo de sua luta pela independência na cerimônia do Grito. Toda a festa teve como cenário o Poble Espanyol, uma vila que reproduz parte da história arquitetônica espanhola com uma vista linda da cidade.

Máscaras de lutadores a 50 euros e artesanato mexicano


Burrito, si us plau!

Depois de cantar, eles gostam de posar pra fotos

14 septiembre, 2007

Rede da discórdia

... ou a história do quase

Primeira vez em que, de verdade, sou tachada como persona non grata nessa cidade. Meus vizinhos de porta não são lá muito chegados a imigrantes. Se forem brasileiros então...

Ok, eles têm histórias precedentes que ajudam a manter reservas. É que os antigos moradores do meu apartamento, todos brasileiros, eram campeões em festas no prédio: fala alterada, música alta, entra e sai de gente... Na última, colocaram 12 pessoas em um elevador em que só cabem quatro.

Isso eu só fiquei sabendo depois. Até aí não entendia o porquê da dificuldade de arrancar um simples hola nos encontros de corredor.

Outro dia estávamos nós três, companheiras de piso, e uma amiga tomando vinho e conversando na sala. Era sexta-feira à noite, um pouco antes das 11 horas, e eis que toca a campainha. O vizinho, de maneira educada, queria saber o que tínhamos pendurado na sala que fazia um barulho estranho do outro lado.

Ai, ai... era preciso uma imersão na cultura indígena brasileira para explicar o que é uma rede de dormir. Nos restringimos a dizer que era uma inofensiva maca, na tentativa de encontrar uma palavra que se aproximasse do que queríamos dizer. Não posso saber o que eles teriam imaginado.

Pensei em começar essa história de novo: fazer uma torta ou bolinhos, bater na porta e me apresentar. Bom, numa versão mais brasileira, melhor seria levar um bolo de fubá, um acarajé, um... Ihhhh! Vai que pensam que é macumba. Deixa quieto.

Sobre redes de dormir:
"A rede nos acompanha desde o primeiro ao último dia - é berço, leito nupcial, é cama de enfermo, é caixão de morto". Raquel de Queiroz

“A cama obriga-nos a tomar o seu costume, ajeitando-nos nele, procurando o repouso numa sucessão de posições. A rede toma o nosso feitio, contamina-se com os nossos hábitos, repete, dócil e macia, a forma do nosso corpo. A cama é dura, parada definitiva. A rede é acolhedora, compreensiva, ondulante, acompanhando, morna e brandamente, todos os caprichos da nossa fadiga e as novidades imprevistas do nosso sossego. Desloca-se, incessantemente renovada, à solicitação física do cansaço. A rede colabora com a movimentação dos sonhos. Entre ela e a cama há a distância da solidariedade à resignação”.
Luis da Câmara Cascudo. Rede de Dormir: uma Pesquisa Etnográfica. 2 ed. São Paulo: Global, 2003.

12 septiembre, 2007

Distância

Minha vó caiu e quebrou o fêmur no domingo e eu só fiquei sabendo hoje.
Minha tia deixou um recado no meu Orkut para que me conectasse no MSN porque precisava falar comigo.

Num instante, as distâncias que construímos pequenas se fazem enormes.

Eu só queria atravessar a rua e levar uma fatia de bolo diet pra minha vó.

09 septiembre, 2007

Brasil


Amanhã põe uma roupa verde e amarela para lembrar que é o dia em que o Brasil, após passar anos e anos sendo roubado por esse povo daí, gritou (ou melhor falou bem baixinho): "Independência ou Morte". Porque até hoje não conseguiu ser independente.

Bom, mas esse é o nosso País!


Foi com essa mensagem mandada por minha mãe que eu lembrei das celebrações-protestos-reflexões geradas pelo 7 de setembro. Diferente pensar o Brasil desde fora, saber das notícias com certa distância, viver a experiência de ser brasileiro de longe. E desde uma terra em que, pelo menos por enquanto e no círculo em que me relaciono, o "ser brasileiro" carrega uma conotação positiva, às vezes estereotipada, mas sempre relacionada com a idéia de um povo feliz apesar das dificuldades, de riqueza natural e de cultura, de alegria de viver e energia festiva.


Certo que circula a imagem do Brasil associada à prostituição (de homens e mulheres imigrantes que ajudam a compor a maioria dos que estão nas ruas). Mais certo que, mesmo sendo um coletivo ainda minoritário em estatísticas migratórias, já começa a ser visto com preocupação desde as políticas públicas. Tanto que acompanhamos histórias de gente que foi barrada na fila da imigração dos aeroportos, mesmo apresentando documentação necessária, o que indica que talvez em pouco tempo o Brasil esteja na lista dos países em que é exigido o visto de turista para entrar na Espanha.


Ainda assim, no cotidiano, o anúncio de ser brasileiro quase sempre (e depois conto a história do quase) é acompanhado de uma resposta que vem na forma de sorriso e de curiosidade. Um pouco de carinho, eu arriscaria dizer. Em concreto, mesmo que a onda da moda brasileira já leve anos e esteja um pouco em baixa por aqui, o verde amarelo está nas camisetas, nas Havaianas, nos biquinis, nas bandeiras, no Ronaldinho, no Carlinhos Brown, na música em geral, na proliferação de festas ao ritmo do forró ou de classes de samba e capoeira, no sonho com as férias em Salvador da Bahia, na vontade de conhecer as Cataratas do Iguaçú, na lembrança do Cristo Redentor como um símbolo nacional. Tudo um tanto brasileiro para exportação, ok, mas carregado de um otimismo verdadeiro em relação ao país.


Otimismo que, acredito, também nós, que infelizmente não deixamos de ser roubados (por estrangeiros ou nativos) e que lutamos no dia-a-dia para, enfim, nos libertarmos do estigma de colonizados, ainda nutrimos em relação ao Brasil. Por mais contraditório que esse sentimento seja e por mais que venha acompanhado de ondas de desencanto, ele está na frase da minha mãe, está na dita alegria de viver dos brasileiros que estão aqui e aí.
Talvez esse limite tênue entre o otimismo e a desesperança seja a nossa desgraça, talvez não.


*** Confesso que não me identifico muito com o que é apresentado como típico brasileiro por aqui e já entrei em algumas furadas quando resolvi conhecer festas ou espaços dedicados ao país em Barcelona, mas essa proposta parece diferente. Trata-se do Festival Brasil Noar, que está em sua sétima edição. Com conferências, shows, exposições, projeções de filmes, movimenta o circuito Brasil-Espanha por aqui até o final do mês.

05 septiembre, 2007

Mais migracões

** En la calle
- ¿Eres de aquí?
(... tiempo para pensar...)
- Vivo aquí.

Eso de estudiar migraciones e identidades deja uno un tanto rarito.


** Livro
Para viajantes, mochileiros e amantes da aventura de todos os tempos, On the Road, de Jack Kerouac, completa 50 anos de sua publicação hoje. Com o espírito jovem e abusado de sempre.


** Academia
Participo até sábado do II Congreso Internacional de Etnografía y Educación, dedicado a discutir o tema Migraciones y Ciudadanía, na UAB. Amanhã apresento o trabalho "Redes sociales de inmigrantes e integración ciudadana: un estudio sobre usos de Internet por latinoamericanos residentes en Barcelona".

04 septiembre, 2007

Chamas

Impacto nos telejornais da hora do almoço com as imagens de um cidadão de origem romena que põe fogo no corpo como protesto pela situação de sua família diante da sede do governo de Castellón. Impossível não se chocar com o drama levado ao extremo por um sujeito que, segundo as matérias divulgaram, pedia ajuda para comprar passagens de volta a seu país, depois de ter suas expectativas de melhorar de vida frustradas por aqui.
Prato cheio para incentivar o debate sobre um tema presente no dia-a-dia espanhol, ainda que tratato muitas vezes, pelo menos nos meios de comunicação (desde uma observação livre dessa comunicadora estrangeira), de maneira redutora e simplificada: imigrantes vítimas ou envolvidos em casos de violência doméstica, em roubos ou tráfico, sujeitos anônimos chegados em cayucos ou pateras, e, mais recentemente mas com menos repercussão (como é próprio da cobertura jornalística em geral, por refletir casos não conflitivos), como vizinhos, cidadãos, que votam, vivem e constróem a economia, a cultura, o cotidiano.

As imagens estão nos sites dos principais meios de comunicação, com vídeo no El Pais e fórum de debates en La vanguardia. Participação imediata dos leitores, com posicionamentos ora um tanto xenófobos, ora solidários, mas, acima de tudo, com indicações de um sentimento gerado pela (obrigatória) convivência com as diferenças. Incrível como em pouco tempo a discussão via site faz emergir um conflito polarizado entre espanhóis e estrangeiros (tanto que chegam a identificar-se como tal). Sinais das arestas não tão resolvidas quanto pode parecer à primeira vista.

03 septiembre, 2007

Setembro

Dia de voltar à rotina em Barcelona e em toda a Espanha.
Agora sim: acabaram as férias! E aqui, onde as FÉRIAS são uma instituição social, patrimônio conquistado e muito bem aproveitado, o momento pode exigir até terapia.

As estradas ficaram cheias no última final de semana. E alguns não voltaram pra casa, em uma história triste parecida com a que assistimos no Brasil.

Gente bronzeada nas ruas. Conversa sobre o clima maluco do veraneio nas esquinas. Saudade da praia. Preguiça de acordar cedo.

Metrô movimentado. Pessoal apressado para não perder a hora.

Jornal com dicas de como sentir-se bem apesar da volta: nada de ficar contando os dias até o próximo feriado (que já é no 11)!

Universidade com vida de novo. Filas. Pedidos de informação. Horários na parede.

As lojas tiraram a poeira junto com os cartazinhos de "Cerrado por vacaciones" (a exemplo da fotinho acima de uma série postada por Nereux no Flickr). Todo mundo ao trabalho de novo.

Ah, e academia que nem lembra o deserto das últimas semanas. Corrida pra queima das calorias conquistadas. Adiós, preguiça!

Cheiro de recomeço.