04 abril, 2008

Novo começo

Como a idéia aqui era falar sobre a minha experiência em Barcelona e já estou de volta, resolvi suspender esse projeto, sem abandonar as mezclas. Elas ficam pra sempre.

Sigo escrevendo, sob um novo olhar: De la ventana.


11 febrero, 2008

"Temo no Sul"

Chegada do vôo da Tam no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. O cara do meu lado já estava ansioso depois das horas desde que saiu do Pará, onde visitava um parente da mulher, que viajava junto. A filhinha de um ano e meio já estava em sono profundo. "Temo no Sul", ele disse, assim que o avião tocou o solo. Sotaque de São Gabriel, inconfundível.

E estou no proclamado "sul do sul do Brasil", cantinho no final do mapa, segundo aquela versão do mundo que aprendemos na escola. Chegada! Tempo de matar a saudade, olhar tudo o que é natural com certo estranhamento. Tempo de tomar café em padaria de taxista, de olhar as dezenas de tons de verde da Redenção, de sentir o calor abafado e úmido. Tempo de pegar um ônibus e percorrer mais cinco horas de estrada rumo ao pampa gaúcho. Família, churrasco de carne de ovelha, feijão, modo de falar da fronteira, pobreza e riqueza. A diferença é da cidade, é minha, é do tempo que passou entre a partida e a chegada.

Vou dar jeito na vida e pensar nas mudanças também propostas por aqui.

Agora as mezclas digitales serão outras.

03 febrero, 2008

Daqui a pouco, o Brasil

Fiz tantas coisas nos últimos dias, desde a volta de Santiago, que ainda não processei a idéia de que daqui a algumas horas estarei no avião rumo ao Brasil. Não percebo a dimensão da mudança quando me despeço de pessoas tão especiais com um até breve. E penso nos afetos partilhados, no trabalho realizado, na história construída, na vida bem vivida.

Pensamentos desconexos, frases sem sentido. Impressão de que podia seguir aqui pra sempre e certeza de que agora é hora de voltar. Melhor ir dormir antes que desperte o relógio. E não dei tchau pra todo mundo, nem pra toda a cidade. Um abraço na Sagrada Família, uma cheirada nas Ramblas, uma piscada de canto de olho pras vizinhanças, um suspiro para o Parque Guell.

Pelos meus três últimos objetivos/desejos cumpridos! Prova de que posso querer e mereço conseguir. Beijo com vontade de mais.

Cor e sonho para muito tempo

Letra de El Sueño de Morfeo. Pop espanhol grudado na cabeça:

Hoy me iré
Te dejare
Un trozo de mi mundo
Escrito en un papel
Hoy me iré
Me llevare
Entre mi equipaje
Las ganas de volverte a ver
Y me iré
No se si volveré
Quizás venga mañana
O nunca no lo se
Volveré a por tu mirada
A recoger los frutos que sembré
Volveré a por las palabras
Que te dije alguna vez
Traeré conmigo mil andanzas
Seguiré siendo la de ayer
Y cogeré tu mano fuerte
Para no perderte otra vez

30 enero, 2008

Santiago

Nao venho propriamente para percorrer o caminho, mas nao deixa de ser interessante que a minha última viagem antes de voltar para o Brasil seja a Santiago de Compostela. Linda desde a primeira olhada. E também gelada.

O que me traz é o congresso fundacional da Asociación Española de Investigación de la Comunicación, que acontece até sexta-feira. Momento importante da pesquisa por aqui e momento especial de fechar um ciclo de trabalho e vida em terras espanholas.

De qualquer forma, está garantida a visita à catedral. Que sejam cumpridos alguns dos rituais que circundam esse lugar mágico. No mínimo, como agradecimento.

26 enero, 2008

Entre recortes

Essa já tava pra sair faz tempo. Mexendo nos papéis, recortes, revistas, arquivos, anotações, pedaços dos últimos meses, repasso parte da história com a qual cruzei. E não foi pouca coisa, não.
Só na política, Zapatero desconheceu preço de cafezinho e virou notícia nacional. Teve eleições municipais e autonômicas, com campanha forte na Internet, incluindo vídeo xenofóbico. Jordi Hereu fica em Barcelona e me manda cartão de Natal. Se fala de crise e de especulação anti-patriótica. PP e PSoe trocam acusações sobre tudo e não concordam com nada. Terrorismo e imigração são temas jogados como peteca em disputa eleitoral.

Teve atentando do Eta na França e greve de fome de etarra na prisão. Resultado do julgamento do atentado terrorista de 11 de março de 2004 em Madri e, agora são presos paquistaneses no Raval acusados de planejar um atentado no metrô de Barcelona. Suspeita que leva mais polícia mas, ao que espero, não apaga a força multicultural do bairro.


A realeza andou a mil, com nascimento da infanta Sofia e todo o ritual de apresentação, batismo e bênção possível de se ver na televisão (e jornal, revista, site). Juan Carlos fez 70 anos e diz que segue reinando por aqui sem pressa de ir embora. Mais do que isso, atingiu o posto de celebridade internacional com a frase que virou slogan de camiseta, nome de sanduíche e letra de reggaeton. Sem esqueçar da crise diplomática do Marrocos e outras trapalhadas mais.


Ah, morrem soldados espanhóis e imigrantes no Afeganistão. Madri vira a capital dos estressados (ou dos que andam mais rápido, segundo uma dessas pesquisas de caráter curioso). Barcelona tem mini-pisos de luxo. Bulling no You Tube vira notícia e direito ao aborto é colocado em discussão. Um número sem-fim de mulheres morrem queimadas, esfaqueadas, espancadas por seus maridos. Poças de sangue e testemunho padrão de vizinhos que escutavam os gritos estão em cadeia nacional.


Recuperação da memória histórica vira lei. AVE, definitivamente, passa por baixo da Sagrada Família. Introdução da disciplina de Educação para a Cidadania vira polêmica, com campanha contrária da Igreja e de alguns pais para quem, ao que parece, há temas sobre os quais é melhor não falar. Menina de Girona ganha na justiça o direito de ir de véu à escola. E, retrocesso de anos-luz, discute-se projeto de criação de aulas especiais nas escolas para crianças recém chegadas.



Show dos Rolling Stones, do The Police. Serrat e Sabina fazem turnê juntos. Estardalhaço em torno de El Orfanato, que acabou fora do Oscar. Mas sobra prêmio e indicações pro lindo+talentoso Javier Bardem que (arghh) resolve namorar a Penélope Cruz. Só pra situar o contexto de estrelas de todas e nenhuma grandeza que enchem as capas de revistas e os programas de fofoca na televisão. Claro, que também tive que me acostumar com a idéia da elegância da duquesa de Alba e acompanhar os preparativos do casamento de Borja e Blanca.



Ronaldinho joga e não joga. Ganha fama de boêmio, desestimulado, vida mansa. Parece que vai, mas acaba ficando. E Raul? Afinal, entra Raul pra seleção de futebol ou não? Alonso briga com Hamilton e com todo o mundo. Não ganha o campeonato, mas, que importa? Seu companheiro também não... Rafa Nadal, Pau Gasol e Calderón passaram a integrar meu universo de interesse esportivo.




Agora tem mais eleição, com perguntas postadas na Internet para os candidatos a presidente do governo. E segue o baile.

23 enero, 2008

Encontro

Reformulo a teoria dos seis graus: estamos a um olhar de distância de qualquer pessoa do mundo.

Um olhar e a mulher com a criança no colo vira Maria. Ele é Fernando e leva consigo toda a esperança do mundo.

Encontro em Córdoba, dezembro de 2007: poucas palavras em comum,
em uma breve possibilidade de diálogo


21 enero, 2008

Caramel


Beirute sem guerra na tela de Nadine Labaki. O que soa meio estranho à primeira vista e chegou a fazer a própria diretora se questionar, mas a recepção do público deu força pra essa proposta de sugestão estética e outro tipo de engajamento político.

Em Caramel, uma produção franco-libanesa, quem ganha protagonismo são as mulheres do Líbano e a repressão (sutil ou direta) que vivem sob uma aparente liberdade. Suas histórias tomam forma a partir da atuação de pessoas comuns. Não são atrizes que contam a vida dessas cinco amigas que frequentam ou trabalham no mesmo salão de beleza, mas uma dona de casa, uma empresaria, uma assistente de direção, a própria diretora do filme, que queria trabalhar a partir de uma fusão entre a ficção e a realidade, explorando as experiências de cada uma.

O título faz referência a uma mistura de açúcar, suco de limão e água, usada no Oriente Médio como método para depilação. Mas, segundo Nadine Labaki, "caramelo sugere a idéia do açucarado e do salgado, do amargo e do doce, do açúcar delicioso que pode queimar e ferir".

Por motivos óbvios, me encantei com a história de Lili, uma velhinha das vizinhanças do salão de beleza. A "atriz" foi encontrada ao acaso pela diretora e é uma cristã que só fala árabe. Sua personagem no filme é baseada em uma história contada a Labaki sobre uma jovem apaixonada por um oficial francês que, quando deixou o Líbano, escrevia-lhe todos os dias. Mas as cartas foram interceptadas pela família e, quando ela descobriu, já era tarde. Entre lembranças e fantasias, Lili é obsessionada em recolher todos os restos de papel pela rua.

...
O filme levou o Prêmio do Público no Festival de San Sebastián, no ano passado, e na noite de sábado foi capaz de lotar a última seção no Renoir Floridablanca.