29 mayo, 2007

Enquanto isso...

... em Barcelona



a primavera ganha cara de verão,
o dia fica mais longo,
o trabalho se multiplica e começa a se materializar,
a lista de amigos cresce,
os festivais de música, cinema e arte prometem,
os planos de viagem ganham forma,
a praia, os parques e as ruas viram cenário pra repor a energia,
pequenas e grandes mudanças, aos poucos, vão se articulando.

Ao som de Ramilonga

Ares de milonga
Vão e me carregam
por aí, por aí...

Canção surgida no meio da minha lista de MP3, quando meus amigos dizem que faz um frio de "renguiá cusco" na minha terra.
A estética do frio ganha outro sentido pra quem está fora. Eu bem que me lembro dos desgarrados do pago da Página do Gaúcho.
E agora, oficialmente, completo três meses de velho mundo.

27 mayo, 2007

Aqui vivo, aqui voto!

Final de semana. Expulsão de Ronaldinho com 1x0 pro Barça, vitória do Alonso e domingo de eleições municipais e autonômicas na Espanha. Bem calmas e sem grandes surpresas pelo visto até agora. Há de se esperar a contagem final dos votos (de papel) pra saber o que os espanhóis (aqueles que quiseram votar) decidiram.

Como em qualquer debate político por aqui, a imigração foi tema presente na campanha eleitoral. Não só as políticas de imigração (quase sempre de controle), mas também o direito ao voto dos imigrantes, já que os maiores coletivos (como equatorianos, marroquinos, colombianos, romenos) não participam das eleições porque seus países não possuem acordos de reciprocidade com a Espanha. Apenas imigrantes comunitários, ou seja, de países da União Européia, têm direito a votar e parece que é preciso ter residência há cinco anos no país. E os tratados para votos com os países extra-comunitários que existem não estão regulamentados.

Fica difícil falar de integração assim... Isso que a luta pelo direito do voto refletiria apenas na parcela da população estrangeira com a documentação regularizada. Não estamos nem sonhando com uma participação efetiva dos milhares de imigrantes sem papéis, indocumentados, ilegais ou seja lá que nome se queira dar pra eles.

24 mayo, 2007

Ojos de brujo

Sábado resolvi encarar a noite dos museus, uma programação especial de portas abertas que me levou a conhecer o acervo do Museu Nacional de Arte da Catalunha. Tão lindo que merece pelo menos mais uma visita pra poder olhar com calma todas as salas. Dali pude ver pela primeira vez o baile das fontes do MontJuic. E terminei a noite num show no alto de uma montanha (parc de la montanyeta) na festa maior de Sant Boi, um povoado perto de Barcelona.

Não fazia idéia do que ia encontrar, só sabíamos o rumo. Era seguir o fluxo para chegar a uma mistura de flamenco, hip hop, rock, rumba, com músicos de Barcelona, com passagens por Brasil, Cuba, Venezuela e sabe-se lá que lugar mais. Um som que não se pode definir qual nem de onde, nascido de encontros num bairro obreiro da cidade. Meio grafite, meio video arte, muita dança.

Ritmo que mexe por dentro e que imediatamente te conecta. Estar ali a ouvir palavras de ordem anti-imperalistas, com gritos em catalão misturados com reverências a América Latina era simplemente experimentar o inesperado, um jeito meio torto de dar um sentido mais colorido para estar aqui.

A propósito, o nome da surpresa é Ojos de Brujo: música nómada y mestiza recorriendo las calles de las ciudades del mundo como una nave de locos, comunicando, creando y festejando.

A foto é do site da banda (fotógrafa e camêra não estavam na mesma sintonia).

21 mayo, 2007

Crise dos três meses

Pequei minha carteira de residência hoje. Sou oficialmente uma cidadã espanhola, pelo menos até março de 2008. E o engraçado é que experimento o que outros estrangeiros que vivem aqui me disseram ser a “crise dos três meses”.

Fenômeno estranho esse que quase me faz evocar versos que lembram que as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá...

Saudade de tudo. Pequenas lembranças. Uma sensação um tanto rara de não sei o que exatamente, mas que me deixa mais pensativa por esses dias.

Ontem, quando percorria sozinha um dos extensos corredores de conexão do metrô ao som de um melancólico músico que repetia “aleluia, aleluia” me senti dentro de um filme sobre mim mesma. Muito diferente daquele maluco dinamarquês que estava indo assistir. Um filminho desses que mostram o cotidiano sob a perspectiva de um personagem da vida comum.

19 mayo, 2007

La sombra del viento

Para conhecer a Barcelona da primeira metade do século XX e depois perder-se nos mesmos caminhos transformados pelo tempo. A novela de mistério de Carlos Ruiz Zafón captura desde a primeira página e faz as outras mais de 500 se transformarem quase num vício diário. La sombra del viento é um sucesso de vendas desde a sua primeira edição, em 2001. E tem sido a minha leitura para as horas de folga por esses dias.

Un amanecer de 1945, un muchacho es conducido por su padre a un misterioso lugar oculto en el corazón de la ciudad vieja: el Cementerio de los Libros Olvidados. Allí, Daniel Sempere encuentra un libro maldito que cambiará el rumbo de su vida y le arrastrará a un laberinto de intrigas y secretos enterrados en el alma oscura de la ciudad. Con gran fuerza narrativa, el autor entrelaza tramas y enigmas a modo de muñecas rusas en un inolvidable relato sobre los secretos del corazón y el embrujo de los libros, manteniendo la intriga hasta la última página.

La Sombra del viento
Carlos Ruiz Zafón
Editorial Planeta

16 mayo, 2007

Pausa

Chegada de imigrantes de países africanos nas Ilhas Canárias, novas medidas para controle da imigraçao, campanha para eleiçoes municipais e autonômicas, impugnaçao de partidos ligados a açoes do ETA, bate-boca de Zapatero e Rajoy, violência doméstica, acidentes de trânsito, protestos em repercussao à vitória de Zarcozy na França, caso Malaya, futebol, futuro GP de Valência, venda de mini pisos com o metro quadrado mais caro do mundo no Raval, venda de apartamento com moradora morta há 6 anos dentro, menininha sequestrada em Portugal...

Nao. A vida nao é um caos. Mas esse é o emaranhado em que me encontro por esses dias na análise de notícias publicadas pela mídia espanhola. Dias de participaçao em um projeto do Migracom, grupo de pesquisa da UAB em que estou vinculada. Dias de trabalhar na minha pesquisa, de ler o que ficou pra trás, de avançar no que estava empacado, de participar de seminário, de escrever artigo, de tomar decisoes.

Trabalho normal de toda a vida. Sem justificativas. Mas isso faz com que eu esteja um pouco ausente por aqui.

11 mayo, 2007

Del balcón

Vejo a cidade que passa com cara de quem não tem mais tanta pressa.
Resquícios de luz do sol lá longe. É anúncio de que o verão está perto.
Um cachorro da sacada do outro lado também (me) observa.
Mochileiros sempre entusiastas.
Baguetes debaixo de braços que rumam às casas da vizinhança.
Luzes nas janelas. TVs ligadas.
Gente cansada voltando do trabalho e gente animada saindo com os amigos.
Mesas na rua com convidativas canecas de chope.
Luzes já acesas na Sagrada Família.
Conversa na esquina.
Casais de velhos de mãos dadas.
Móveis descartados na calçada à espera da coleta.

Promessa de um final de semana inteirinho pela frente.
E a certeza de que tudo se renova.

10 mayo, 2007

Brasil na Espanha

Mas que nada, de Sergio Mendes (no vídeo com Black Eyed Peas). Música repetida entre os comerciais da Antena3, canal nacional de TV. E que logo me identificou como brasileira aqui. Nada como saber cantar e poder ensinar a letra. Trilha sonora até da minha aula na academia. Ritmo brazuca no sangue.

08 mayo, 2007

Fórum Unifra

Desde ontem meus colegas e alunos estão envolvidos com o 5º Fórum de Comunicação da Unifra. Este ano o tema é comunicação e novas tecnologias. Justo quando eu estou longe, a discussão gira em torno desse universo que tanto me apaixona... Mas fico feliz só por acompanhar a cobertura da Agência CentralSul de Notícias e perceber, através das matérias de nossos jornalistas aprendizes, a qualidade do debate. Que seja produtiva essa jornada de trabalho!

06 mayo, 2007

Brasil na Espanha

Acabo de assitir à estréia de um programa sobre viagens na Tele 5 dedicado, hoje, ao Brasil.

E não é que o apresentador resolveu mostrar o Brasil clichê em cadeia nacional? Ali estavam tribos selvagens da Amazônia (selvagens?), escolinhas de futebol, umbanda (para um apresentador esforçado em não demonstrar seu medo diante dos pais-de-santo), favelas, mulatas de fio-dental em Ipanema, ensaio de escola de samba (com direito a performance de Grazi ex-BBB). Teva até a história de um assaltante, El Dioni, que virou celebridade ao levar para casa um furgão recheado de milhares de pesetas de um banco e fugir adivinha pra onde? Nossa terrinha, claro, lugar preferido de golpistas do mundo inteiro.

Estava curiosa para saber o que seria mostrado, pois a mídia aqui fala muito pouco sobre o Brasil. Nesse última semana, em que especialmente tenho acompanhado a cobertura nacional para uma pesquisa sobre o tratamento informativo da imigração, só apareceu um gol curioso do Cruzeiro e não sei que time, imagem repetida em quase todos os canais.

Ao que me pareceu, superficial, mas bem feito. Gostei da tentativa de mostrar também a pobreza, a paisagem urbana. Uma produção caprichada, trilha sonora de primeira, imagem de roda de samba. Tudo muito bem intencionado, afinal era um programa de entretenimento de final de domingo. E nós também temos os nossos Fantásticos com suas voltas ao mundo por aí. Só não vai ajudar muito para a próxima vez em que me apresente como brasileira e receber comentários sorridentes: “el Corcovado!”.

* Gostei de ler alguns comentários postados no site do programa:
Siendo español, siento vergüenza por la imagen que habeis dado de Brasil. Conozco ese pais muy bien, viajo bastante y he vivido allí, pero me ha decepcionado lo que habeis mostrado. No sólo hay futbol, samba, tangas, favelas, selva y dionis ...

Si el objetivo era conocer Brasil: Muy mal. Si el objetivo era pasar un rato entretenido con el pretesto de la realidad Brasileña vista con ojos del español que no viaja y no conoce nada del pais: Muy Bien pues crea interes tanto a favor como en ...

Adorei seu programa do brasil,m gusto pq eu sou brasileña e as pessoas te mania de por solo as coisas buenas e naun mostran como é de verdade,muchos besos e gracias

Para Brasil. Que pena que en españa no conozcamos casi nada de las favelas de Brasil, ni de nada de Brasil. Sardá muestranos mas Brasil a todos y que hablen aunque sea mal.

04 mayo, 2007

Minha casa

Lembro do meu apartamento e sinto seu cheiro, sua aura. Sensação de um tempo único. Importante. Por alguns momentos sofrido, em muitos outros, feliz. Como recordo de cada pedacinho, do tanto que vivi ali e de como fui juntando cada parte, desde a primeira xícara.

Quando voltava de Milao tive a sensação de que chegaria ali, abriria a porta, deixaria a mala vermelha no corredor e me atiraria no sofá. Tal como fazia quando voltava de Santa Maria. Saudade do meu sofá, da bicicleta na área de serviço, dos meus cactos na cozinha, do sol pela manhã na sala, da janela do quarto pras árvores da Garibaldi. Lembro até da interminável lista de compras das vizinhas de baixo...

E agora o meu apartamento não existe mais. Assim, como na minha memória, nunca mais. Tudo o que eu trouxe para vivir aqui coube em duas malas. Pequenas aquisições nesses últimos dois meses e basta! Apesar de às vezes bater essa saudade, a liberdade que o exercício de desapego provoca é incrível. Estou aqui e estou em qualquer lugar.

Minhas coisas estão guardadas para as novas moradas que estão por vir no Brasil, depois dessa que cultivo aqui. Acho que, no final, precisei aprender a construir e desconstruir minha casa para perceber que, na verdade, ela está aqui dentro.

* Na foto: casinha dos sonhos, amarela e no alto de uma colina, em Florência.

02 mayo, 2007

UAB

Dias de muito trabalho. Aproveito para postar imagens da universidade em tarde de sol, quando muitos alunos, entre uma aula e outra, aproveitam o espaço livre para deitar na grama para dormir, conversar, jogar carta, namorar... O campus já mudou de cara desde que eu cheguei. Os dias cinzas e de frio foram embora. Espero que de vez.

Por agora, o jeito é buscar inspiração na paisagem e na calma da UAB pra avançar com a pesquisa.


01 mayo, 2007

Entre típicos

De apreciadora de paella de mariscos a consultora para assuntos de feijoada. A que está aí abaixo fui eu que ajudei a fazer. E era pra apresentar à comunidade local. Muita responsabilidade! Não sei como, mas graças à equipe de cozinheiros totalmente brasileira, fizemos sucesso.



Diferenças 5: autonomia

Mudança radical: preciso fazer tudo sozinha por aqui. Digo, serviços gerais, pequenos consertos, costura, passar roupa... Qualquer profissional para ajudar nessas coisas do dia-a-dia cobra muito. Saudade da Rita!!! Que até meu guarda-roupa organizava...
O jeito é me virar mesmo. E eu que sempre tinha um telefone de algum faz-tudo para ajudar diante da minha inabilidade para troca de lâmpadas... Não é fácil.

Sofri com a compra do meu computador por não dispor de uma consultoria técnica para me ajudar a subverter o maldito windows vista. Resulta que tive que trocar o meu portátil por um dos poucos exemplares que ainda vinha com windows xp. Pelo menos nele eu me viro e posso instalar todos os programas que me agradam sem pedir permissão de joelhos a bill gates.
Agora sofro pra configurar minha rede sem fio. Nem a Telefonica oferece uma assistência técnica decente. Aliás, estou cheia da Telefonica. Mas não me entrego. Há de servir pra alguma coisa essa imersão ao mundo do faça-você-mesmo.

E antes de conseguir a autonomia no mundo da informártica, telefonia, eletro-eletrònica e serviços domésticos, mando uns e-mails com dúvidas cruciais e pedidos urgentes aos amigos do Brasil. Preparem-se!