
Amanhã põe uma roupa verde e amarela para lembrar que é o dia em que o Brasil, após passar anos e anos sendo roubado por esse povo daí, gritou (ou melhor falou bem baixinho): "Independência ou Morte". Porque até hoje não conseguiu ser independente.
Bom, mas esse é o nosso País!
Foi com essa mensagem mandada por minha mãe que eu lembrei das celebrações-protestos-reflexões geradas pelo 7 de setembro. Diferente pensar o Brasil desde fora, saber das notícias com certa distância, viver a experiência de ser brasileiro de longe. E desde uma terra em que, pelo menos por enquanto e no círculo em que me relaciono, o "ser brasileiro" carrega uma conotação positiva, às vezes estereotipada, mas sempre relacionada com a idéia de um povo feliz apesar das dificuldades, de riqueza natural e de cultura, de alegria de viver e energia festiva.
Certo que circula a imagem do Brasil associada à prostituição (de homens e mulheres imigrantes que ajudam a compor a maioria dos que estão nas ruas). Mais certo que, mesmo sendo um coletivo ainda minoritário em estatísticas migratórias, já começa a ser visto com preocupação desde as políticas públicas. Tanto que acompanhamos histórias de gente que foi barrada na fila da imigração dos aeroportos, mesmo apresentando documentação necessária, o que indica que talvez em pouco tempo o Brasil esteja na lista dos países em que é exigido o visto de turista para entrar na Espanha.
Ainda assim, no cotidiano, o anúncio de ser brasileiro quase sempre (e depois conto a história do quase) é acompanhado de uma resposta que vem na forma de sorriso e de curiosidade. Um pouco de carinho, eu arriscaria dizer. Em concreto, mesmo que a onda da moda brasileira já leve anos e esteja um pouco em baixa por aqui, o verde amarelo está nas camisetas, nas Havaianas, nos biquinis, nas bandeiras, no Ronaldinho, no Carlinhos Brown, na música em geral, na proliferação de festas ao ritmo do forró ou de classes de samba e capoeira, no sonho com as férias em Salvador da Bahia, na vontade de conhecer as Cataratas do Iguaçú, na lembrança do Cristo Redentor como um símbolo nacional. Tudo um tanto brasileiro para exportação, ok, mas carregado de um otimismo verdadeiro em relação ao país.
Otimismo que, acredito, também nós, que infelizmente não deixamos de ser roubados (por estrangeiros ou nativos) e que lutamos no dia-a-dia para, enfim, nos libertarmos do estigma de colonizados, ainda nutrimos em relação ao Brasil. Por mais contraditório que esse sentimento seja e por mais que venha acompanhado de ondas de desencanto, ele está na frase da minha mãe, está na dita alegria de viver dos brasileiros que estão aqui e aí.
Talvez esse limite tênue entre o otimismo e a desesperança seja a nossa desgraça, talvez não.
*** Confesso que não me identifico muito com o que é apresentado como típico brasileiro por aqui e já entrei em algumas furadas quando resolvi conhecer festas ou espaços dedicados ao país em Barcelona, mas essa proposta parece diferente. Trata-se do
Festival Brasil Noar, que está em sua sétima edição. Com conferências, shows, exposições, projeções de filmes, movimenta o circuito Brasil-Espanha por aqui até o final do mês.