22 abril, 2007

Primavera

Nada como a primavera para animar os espíritos. Depois de três semanas cinzas, de chuva e frio, o sol voltou a brilhar em Barcelona. O verde está mais verde, as flores ajudam a colorir a paisagem e as pessoas parecem mais leves. Ou talvez seja eu quem está mudada, contagiada pela energia da cidade. Só sei que, sem me dar conta, começo a me sentir à vontade por aqui. Dizer em casa seria um exagero, mas confortável, tranqüila, feliz.

É muito estranho como acontece, mas quando se percebe já se começa a reconhecer os lugares como um pouco seus. As diferenças se tornam mais familiares, os sons urbanos não perturbam mais (pelo menos não sempre e tanto) e o cotidiano começa a se organizar entre certo conforto da repetição e expectativa da surpresa.

Outro dia me vi cantando junto com um jingle de um produto da TV, tal como fazia no Brasil. Ir no supermercado não me exige horas para a busca das prateleiras e a leitura dos rótulos, já cultivo algumas preferências. Me lembro de vários itinerários locais sem consular o mapa do metrô. Vejo caras conhecidas no bar da universidade e posso rir do mau humor do atendente sem pensar que esteja enfadado comigo por ter me confundido na tradução do menu do catalão para o castelhano. Até posso cumprimentar um colega da academia nas ruas da vizinhança...

Isso é o que eu chamo de progresso. Porque, agora que passou posso confessar, quando cheguei me vi paralisada. “O que estou fazendo aqui?” – era o que me perguntava. “Por que deixar as poucas certezas que tinha para me aventurar num desconhecido?”.

Seguro que ainda não tenho essas respostas, mas o que vale é que elas já não importam tanto. E, sem muita pressa, vou me deixando levar, bem ao estilo de Barcelona, cenário perfeito para se deitar ao sol em uma contemplativa e libertadora sesta.

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