18 abril, 2007

Terror

Aqui se falava sobre atentados suicidas em Marrocos e Argélia. No sábado, dois irmãos detonaram as bombas que levavam no corpo diante do consulado norte-americano em Casablanca. Ninguém se feriu. Apenas os jovens que viviam em condições precárias em um povoado miserável morreram.

Foi mais um dos tantos atos extremistas em países islâmicos do norte da África a preocupar a Espanha. Ações que fazem aumentar a proteção policial em regiões de fronteira como Ceuta e Melilla, já declaradas pela Al Qaeda como zonas de conflito, parte do projeto de seu sonhado “califato panislâmico” que iria até o Iraque.

Pouco depois de minha chegada, circulava pela Internet uma declaração da Al Qaeda de que a Espanha seguia sua afronta ao mundo árabe ao retirar suas tropas do Iraque e enviá-las ao Afeganistão. Aviso parecido ao que foi dado antes do 11 de março que assombrou Madri e o mundo. Há semanas, acusados do comando islamista que liderou o ataque e centenas de testemunhas são ouvidos no julgamento do maior atentado sofrido pela Espanha.

Ainda me deparo com o debate sobre as ações do ETA e todo o uso político feito a partir de uma sensação de insegurança e incerteza da população. Foi o que ocorreu depois do 11 de março, quando o então governo do Partido Popular, antes das eleições, vinculou o atentado ao ETA, mesmo tendo informações contrárias. Tudo porque reza uma lenda do derrotado partido conservador de que o atual presidente do governo, Zapatero, compactua com os terroristas vascos. E aí vão horas de bate-boca público.

Tudo isso pra dizer que o terrorismo aqui assume uma dimensão outra, próxima das pessoas. Ainda que mais como uma preocupação, um tema a ser discutido, do que como responsável por mudanças significativas no cotidiano. Trata-se de uma sensação presente de que, seja o radicalismo islâmico, seja o nacionalismo exacerbado, ou qualquer outra forma extrema de lidar com as diferenças e as desigualdades, podem levar a situações de tensão.

E todo esse emaranhado de conflitos é colocado em suspenso quando um jovem de 23 anos mata seus colegas em uma universidade da Virgínia. Ali não estão em jogo divergências mundiais, disputas entre inimigos históricos, mas as relações sutis, os desacordos aparentemente internos, reflexos de uma cultura da violência, da arma, da intolerância. E todos nos colocamos mais uma vez a pensar. Onde está o terrorismo? Até onde ele chega? Como nos afeta? Até que ponto não somos seus cúmplices?

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